Mais do que uma história de amor, “Eu, Ela e Ele”, drama do escritor catarinense Diego Nascimento, fala sobre descobrimento e saúde mental dentro da comunidade LGBTQIAP+. Lançada pela editora Novo Século, a trama gira em torno do casal Vítor e Emma, que precisa aprender a lidar consigo mesmo após uma terceira pessoa, Adam, se tornar parte do relacionamento.
– Eu chegaria a dizer que não é uma história de amor, ou de um triângulo amoroso, mas sim uma história de descobertas. O descobrimento e aceitação da bissexualidade de Vítor, ou ainda a aceitação de Adam em ser gay e ter que se esconder por meio das consequências da sociedade – principalmente do ambiente em que trabalha, o mundo corporativo – são fases que muitas pessoas passam e irão se identificar. O mundo precisa de muito mais amor, e, mais do que simpatizantes da diversidade, precisamos de pessoas com empatia – afirma o autor.
Montanha-russa de sentimentos
Vítor e Emma possuem uma relação duradoura de anos e estão noivos no momento. Nos preparativos para o casamento, o casal é considerado perfeito por todos ao seu redor. Mas a perfeição começa a ser questionada quando surge Adam, e os três embarcam em uma “montanha-russa” de sentimentos, dúvidas e questionamentos, como “até onde o amor sobrevive ao poliamor?”.
Entre os diversos elementos presentes na obra, o escritor conta que um dos seus favoritos é a bissexualidade do protagonista, que acontece de forma natural e curiosa.
– É algo que eu gostei muito de explorar, porque foi muito divertido e ao mesmo intenso ver como o personagem estava se descobrimento, e os motivos por isso acontecer tão tarde em sua vida. A bissexualidade não é tão bem abordada ao meu ver, e muitas vezes sofre preconceito até mesmo dentro da comunidade, mas acredito que isso esteja mudando com os anos. Temos até memes como ‘O “B” da sigla não é de biscoito’ – explica.
Saúde mental e dependência química
Mestre em Ciências da Saúde, farmacêutico e tecnólogo em Gestão Pública, Diego escolheu dar uma atenção especial ao tema saúde mental, trazendo para sua ficção situações e instituição da realidade brasileira, como os Centros de Atenção Psicossocial (CAPS), que são abordados na história.
– Diversos livros e pesquisas científicas evidenciam o sofrimento que pessoas LGBTQIAP+ sofreram, sofrem e irão sofrer apenas por ser quem elas são. É revoltante pensar que no atual século os transtornos mentais como ansiedade e depressão possuem uma incidência alta dentro dessa comunidade. Por quê? Quais as razões? Onde estamos errando na educação? É muito triste o preconceito, a violência e a não aceitação da diversidade. Pessoas são pessoas, independente de orientação sexual – acrescenta.
Outra questão presente na trama é a dependência química, que é colocada de forma sutil, em paralelo com as situações vividas pelos personagens Vítor e Adam.
– Por não conseguir se assumir, Adam vive bebendo muito, mas não chega a ser alcóolatra, mas faz ele se sentir vazio, e pensar que vive uma vida solitária de muitas festas, sem saber quem ele realmente é. Já Vítor está em uma “montanha-russa” de emoções, e acaba oscilando em picos de euforia e depressão, que geram noites de insônia. Ele faz uso indiscriminado de medicamentos para dormir, uma dependência química muito frequente em todo o mundo – detalha.
Versos musicais embalam narrativa
Uma das peculiaridades do livro é que cada capítulo faz referência a uma música diferente – como “Head Above Water”, de Avril Lavigne, “Don’t Blame”, de Taylor Swift, “Hot N’ Cold”, de Katy Perry e “Show Yourself”, cantada pela rainha Elsa em Frozen, clássico da Disney.
– Eu sou apaixonado por música! E na verdade crio meus próprios clipes (em minha imaginação) ao ouvir determinada música em diferentes momentos: de tristeza, alegria, drama. Parece meio bobo, mas foi assim que cheguei na ideia de utilizar as músicas em cada título de capítulo. O leitor consegue entender perfeitamente o sentimento de cada personagens pelas letras das canções escolhidas em cada um. É muito divertido encontrar músicas que possam fazer os leitores rir, chorar, e se emocionar ao se deparar com alguma música que em algum momento fez parte da sua vida – menciona.
“O importante é viver”
Apesar de criar uma história centrada na comunidade LGBTQIAP+, Nascimento possui um relacionamento de 11 anos com Gabriela, sua esposa. Para ele, não é preciso fazer parte da sigla para querer uma diversidade construída na paz.
– A mensagem que eu quero passar é que você não precisa se cobrar tanto, se rotular. O importante é viver, se conhecer, é amar e estar cercado de quem te ama. Quando tudo parecer perdido, não desista, dê um tempo. Quando estiver pressionado, procure ajuda, assim como o Vítor. E principalmente, mantenha a fé em si. Para sair do sufocamento, é necessário limpar a garganta e cantar alto com todas as forças. Esse é o sentido da vida. Viva intensamente. O futuro começa agora – finaliza.
Mais informações sobre Diego Nascimento em https://www.instagram.com/autordiegonascimento/