Cerca de 350 caminhoneiros participaram, nesta segunda-feira (15), na capital do Rio de Janeiro, de uma manifestação contra roubos de carga. De acordo com dados do Instituto de Segurança Pública (ISP) do estado, no ano passado foram registrados 4229 casos.
Entre janeiro e março de 2023 já ocorreram 1117, enquanto no mesmo período do ano anterior foram 1018, o que representa um aumento de 9,7%. Somente no último mês de março foram 490 casos, que, comparados ao resultado de 2022, significam alta de 44,10%.
Os caminhões levados na manifestação carregavam faixas mostrando a apreensão da categoria: “Roubo de carga: Já morreram 3 motoristas. Quantos mais ainda precisam morrer?”. Outra faixa exibia: “Roubo de carga: agride a sociedade, gera mais desemprego e produtos mais caros à população”.
A concentração dos caminhoneiros foi na Avenida Brasil, na altura do Mercado São Sebastião, na Penha, zona norte do Rio. A manifestação seguiu em carreata e, na altura da Pavuna, fizeram o retorno na Rodovia Presidente Dutra, prosseguindo em sentido oposto da Avenida Brasil até o bairro do Caju, na região portuária. De lá, os caminhões voltaram para o ponto de partida.
Organização
O diretor-presidente da Logística Brasil- Associação Brasileira dos Usuários dois Portos, de Transportes e de Logística, André de Seixas, além da entidade, a manifestação, que durou cinco horas, foi organizada por empresas de transportes rodoviários, com a participação dos caminhoneiros. A intenção foi chamar atenção para a situação que se agrava a cada dia com os casos de roubos de carga no Rio de Janeiro.
“O protesto foi muito bem-sucedido. Não parou o trânsito, foi feito de forma ordenada, respeitamos as pessoas, não paramos a Avenida Brasil. Tudo fluiu conforme tinha que ser e o protesto foi registrado. Era o que a gente queria, que a imprensa jogasse luz no roubo de carga, ressaltou, em entrevista à Agência Brasil.
Na avaliação de Seixas, a característica da criminalidade do Rio provoca influência na prática deste tipo de crime. “São Paulo tem uma facção dominante. E se a polícia invade o que eles chamam de quebrada, a facção recua e, com a saída da polícia, volta porque sabe que nenhuma facção vai tomar o espaço. No Rio, tem muitas facções. Se a polícia entra e a facção recua, outra pode ir tomar o território. Esse é o problema do Rio de Janeiro. É questão territorial”, afirmou.
Polícia equipada
Para o transportador, diante da ação intensa dos criminosos, a polícia precisa ser melhor equipada, porque a estratégia da criminalidade é levar os veículos para dentro das comunidades. De acordo com ele, embora venha agindo no combate ao roubo de carga, o trabalho policial não é completo por causa da vigência da Ação de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF) 635. Movida pelo Partido Socialista Brasileiro (PSB), a ação levou o ministro Edson Fachin, do Supremo Tribunal Federal (STF), durante o período de pandemia, em 2020, a restringir a realização de operações policiais nas comunidades do Rio, que passaram a ser permitidas apenas em situação de excepcionalidade.
Seixas disse que a criminalidade está se equipando dentro das comunidades com o resultado do roubo de carga. “Estão com galpões, com empilhadeiras e sistema logístico e o perfil de roubo de carga está mudando aos poucos, está acrescentando.”
Antes, os frutos dos roubos vendidos nos trens eram biscoito, chocolate, arroz, um eletrodoméstico mais barato, mas agora o perfil do roubo de carga está começando a entrar no insumo industrial. “Dois exemplos são o ferro silício e o polietileno, insumos para a indústria. Tem um receptador grande aí por trás”, acrescentou.
Apesar de considerar que a polícia também vem agindo no combate aos receptadores com ações de inteligência, comentou que o trabalho esbarra às vezes na dificuldade de comprovar o vínculo de um empresário com o produto do roubo, agravada pelo fato da pena por receptação ser muito branda.
Apoios
Seixas afirmou que a categoria está se movimentando também para buscar encontros no legislativo e já fez contato com a Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj) para marcar uma audiência para discutir o problema. A categoria quer ainda uma reunião no Congresso Nacional com a bancada federal do estado e estender o debate para outras esferas de poder. “Isso tem que envolver o nosso Judiciário, o Ministério Público, a Alerj, o governo do Estado, o Executivo. A polícia já está envolvida diretamente. Nossa bancada, em Brasília, tem que atuar nisso, os deputados têm que se unir em torno do Rio de Janeiro”, comentou.
O diretor-presidente traçou um cenário preocupante caso o problema não seja resolvido em pouco tempo. “A coisa está indo para um caminho em que vai chegar a hora que não vai sair veículo para transportar carga, porque ninguém vai querer bancar o risco de vida. A gente está caminhando para isso é o próximo passo, vai desabastecer não tem condição de sair”, alertou.
CET-Rio
O percurso dos caminhoneiros foi acompanhado por equipes da Companhia de Engenharia de Tráfego do Rio (CET-Rio), que confirmou a falta de interferência no fluxo de veículos. Ao mesmo tempo havia na cidade uma manifestação de motoristas de aplicativos na Avenida Presidente Vargas, no centro, em direção à Praça da Bandeira, na zona norte.
“Ambas as manifestações são acompanhadas por policiais militares e operadores da CET-Rio. Cumpre destacar que o Centro de Operações tinha o conhecimento dos protestos, e, por isso, dedicou já nas primeiras horas da manhã operadores exclusivos para o acompanhamento dos dois eventos”, informou.
De acordo com a Secretaria de Estado de Polícia Militar o acompanhamento da manifestação dos caminhoneiros foi feito por equipes do Batalhão de Policiamento em Vias Expressas (BPVE).
Edição: Maria Claudia
Fonte: EBC