Economista. Foi ministro da Fazenda no período 1988-1990. Tem seis livros publicados, inclusive sua autobiografia. É colunista da revista Veja e mantém um blog na Veja online. Membro do conselho de administração de várias empresas brasileiras. Economista do Ano 2013 pela Ordem dos Economistas do Brasil.
Roberto Dardis – Como o senhor enxerga hoje nossa economia com juros de 13,75%? Culpar somente o BC por esses juros é certo?
Maílson da Nóbrega – A taxa Selic é compatível com as expectativas de inflação. Por certo, contribui para desacelerar a atividade econômica, mas essa é a consequência natural de qualquer política monetária voltada para combater aumentos de preços. A taxa Selic reflete a baixa potência da política monetária, que influencia apenas 60% da oferta de crédito da economia, da periclitante situação fiscal. As críticas que o BC vem recebendo parecem resultar de visões ideológicas e de grossa ignorância de como funciona um banco central moderno, particularmente na questão chave da inflação.
RD – Com uma dívida pública alta e sem o governo economizar, será iminente um aumento de impostos? Ou temos outras saídas?
MN – O governo dificilmente pode economizar, pois dispõe de menos de 10% dos gastos primários federais para realizar todos os gastos discricionários. Isso tende a piorar o crescimento vegetativo dos gastos obrigatórios e com a decisão do governo de conceder aumento reais do salário-mínimo, que reajusta três de cada benefício previdenciário, e de recompor salários do funcionalismo. A média mundial de disponibilidade do Orçamento é de 50%.
RD – Com crescimento baixo, inflação ainda fora da meta e juros altos, e sem um projeto econômico viável (arcabouço fiscal/reforma tributária), qual seria a saída para o governo voltar a ter superávit em suas contas?
MN – Dificilmente o governo não recorrerá a aumento de alíquotas de tributos. Promete-se reforçar a arrecadação com a eliminação de gastos tributários, mas se trata de difícil tarefa, principalmente porque não inclui os benefícios fiscais do Simples, da Zona Franca de Manaus e das instituições sem fins lucrativos. Propostas semelhantes fracassaram em passado recente.
RD – Mesmo sabendo que precisamos de reformas gerais, muitos fogem desse vespeiro, mas o pais está ficando para trás sem elas… qual a nossa saída?
MN – A saída é propor reformas que aumentem a inovação e a produtividade da economia, bem como as que melhorem a qualidade da educação quando comparada a outros países. O Brasil gasta em educação 6,3% do PIB, mais do que os países ricos (5,6% do PIB), mas tem fracassado em oferecer educação de qualidade, particularmente no ensino fundamental e médio.
Fonte: Brasil61