Fernando Honorato é economista e atual economista chefe do Banco Bradesco. Atuou em outras grandes instituições financeiras nacionais, sempre na posição de economista, membro de mesas e conselhos de importantes núcleos econômicos do pais, com graduação e mestrado em Economia pela Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo – FEA-USP, Program for Management Development (PMD) pelo IESE – University of Navarra, São Paulo, SP.
Roberto Dardis – Como você enxerga hoje nossa economia tendo juros de 13,75%? Culpar somente o BC por esses juros é certo?
Fernando Honorato – O juro elevado é fruto de uma série de fatores: choques de oferta da pandemia (semicondutores, automóveis, guerra), programas de estímulos de demanda, resiliência do mercado de trabalho e desencorajem das expectativas de inflação. Vale destacar que esses são fenômenos globais e não apenas brasileiros.
O novo arcabouço fiscal deve limitar a expansão do gasto público e as commodities e o dólar estão em queda, o que ajuda a inflação. Assim, após a definição do que será feito com a meta da inflação, em junho, as expectativas devem diminuir sua distância em relação à meta, possibilitando o início do corte de juros em setembro, levando a Selic a 12,25% ao final do ano.
A economia está resiliente apesar desse quadro de juros elevados, resultado do bom desempenho agrícola e, ainda, dos legados da reabertura da pandemia. Mas o esforço de construção conjunta de corte de juros pelo governo e o Banco Central é fundamental para diminuir os riscos de uma desaceleração mais intensa adiante.
RD – Com uma dívida pública alta e sem o governo economizar, será iminente um aumento de impostos? Ou temos outras saídas? Com crescimento baixo, inflação ainda fora da meta e juros altos, e sem um projeto econômico viável (Arcabouço fiscal/reforma tributária), qual seria a saída para o governo voltar a ter superávit em suas contas?
FH – O novo arcabouço fiscal prevê expansão dos gastos públicos entre 0,6% e 2,5% nos próximos anos. Segundo nossas simulações, isso deve fazer com que o gasto do governo federal se estabilize ao redor de 19% do PIB. Como a arrecadação Federal roda, hoje em dia, ao redor de 17,5% do PIB, o país terá que contar com um aumento de arrecadação da ordem de R$150 bilhões nos próximos anos para zerar o déficit primário e iniciar um processo de estabilização e queda da dívida pública.
Caso se pretenda manter esse nível de gastos nos próximos anos, as únicas alternativas para a estabilização da dívida pública sem aumento da inflação são a elevação da arrecadação ou o crescimento mais acelerado da economia, o que depende de reformas que ampliem a produtividade e o PIB potencial do país. A reforma tributária, ao dar alguma racionalidade aos impostos sobre consumo, é uma candidata a acelerar o crescimento da economia.
RD –De zero a 10, qual a nota que você daria sobre uma intromissão política em nossa economia? E qual o peso que essa intromissão causa no pais?
FH – O Brasil tem tido avanços e retrocessos em seus marcos regulatórios que organizam e fiscalizam a relação entre o setor público e o privado. Nos últimos anos houve reformas importantes, como a trabalhista e a lei do saneamento, que melhoraram o arcabouço jurídico do país, a autonomia do Banco Central, o cadastro positivo, bem como reformas que disciplinaram a relação dos bancos públicos junto ao Tesouro. Ainda há muito que se fazer para simplificar a burocracia no país e, novamente, a reforma tributária pode ser um passo importante nessa direção.
RD – Mesmo sabendo que precisamos de reformas gerais, muitos fogem desse vespeiro, mas o pais está ficando para trás sem elas. Qual a nossa saída?
FH – As reformas necessárias para a aceleração do crescimento são conhecidas: tributária, segurança jurídica, confiabilidade das agências reguladoras, maior inserção internacional, elevar a produtividade do setor público, aumentar a eficiência dos gastos e resultados em educação, fomentar a competição e avanços na infraestrutura.
Fonte: Brasil61