O Brasil tem 31 organizações de filantropia independentes, que doam recursos para causas de justiça socioambiental e desenvolvimento comunitário. Essas instituições doaram um montante entre R$ 276 milhões e R$ 330 milhões no ano passado. É o que revela um mapeamento inédito feito pela Rede Comuá, divulgado nesta terça-feira (5).
As organizações de filantropia independentes são “fundos que mobilizam recursos de fontes diversificadas para doar para a sociedade civil. Não estão vinculadas a uma empresa ou a uma família que mobiliza o recurso diretamente para elas. Elas devem mobilizar recursos para poder doar”, explicou à Agência Brasil Graciela Hopstein, diretora executiva da Rede Comuá – uma articulação de organizações doadoras para a sociedade civil.
O estudo traçou que as organizações de filantropia independentes estão em todas as regiões do país, sendo mais da metade (58%) no Sudeste. São Paulo lidera a presença (29%), seguido pelo Rio de Janeiro, com 23%. O fato de as instituições estarem concentradas em uma determinada região do país não significa que as doações são feitas exclusivamente para a mesma região. Uma organização em São Paulo pode ter doado para um projeto no Piauí, por exemplo.
A segunda região brasileira com mais presença nas organizações é o Norte, com 23%. Amazonas e Pará abrigam 10% dos entes mapeados cada. A preocupação com causas ambientais, mais notadamente na Amazônia, explica esses números da região Norte.
Os outros estados sinalizados no estudo são Amapá, Bahia, Espírito Santo, Maranhão, Minas Gerais, Santa Catarina. O Distrito Federal também aparece na lista.
Causas apoiadas
Ao identificar quais as causas que mais recebem doações, a Rede Comuá informou que na ponta está o fortalecimento institucional (74%), seguido por cultura (48%), gênero e direito das mulheres (48%), desenvolvimento comunitário (42%), agricultura familiar (39%), comunidades tradicionais (35%) e equidade racial (32%). As organizações mapeadas responderam mais de uma opção cada, e as porcentagens representam o total de respostas para cada opção.
Aparecem na lista temas como conservação ambiental, sustentabilidade, educação, direitos da população LGBTQIA , de pessoas com deficiência, combate à fome, juventude, saúde, entre outros.
Graciela Hopstein explica que a primeira causa do ranking, o fortalecimento institucional, se trata de apoiar a organização como um todo. “Não é uma filantropia ligada à execução de um projeto. É apoiar para que a instituição possa existir, se sustentar política e economicamente ao longo do tempo”, conta. “Fortalecendo as organizações e grupos da sociedade civil é como a gente consegue ter um tecido social fortalecido e, dessa forma, fortalecer também a democracia”, completa.
A diretora-executiva da Comuá considera que as organizações de filantropia independentes têm grande importância por entenderem a autonomia das instituições recebedoras de doações. “Não são agendas que saem da cabeça deles [doadores], mas, sim, um apoio que está construído em diálogo com a sociedade civil”, avalia.
O mapeamento buscou saber também para qual público as organizações fazem doações. A maioria delas apontou organizações da sociedade civil, coletivos e cooperativas.
Recursos
Analisando o aspecto financeiro, o levantamento revela que 49% das organizações doaram até R$ 1 milhão, enquanto 32% despenderam de R$ 1 milhão a R$ 25 milhões. Esses dados são referentes a 2021.
Mais da metade delas (52%) trabalham com orçamento de R$ 2 milhões a R$ 25 milhões; 32%, até R$ 1 milhão.
Independência
Uma das características dessas organizações é que costumam ter várias fontes de recursos. A maioria delas (53%) tem seis ou mais financiadores. Um reflexo dessa pluralidade é que reduz a dependência de um grande financiador.
“A diversificação de fontes de financiamento é almejada pelas organizações mapeadas a fim de garantirem que não haja dependência em relação a uma organização ou pessoa específica e, assim, assegurar a sustentabilidade para o desenvolvimento de suas atividades de forma perene”, cita trecho do relatório.
Duas em cada três organizações (68%) declararam que financiadores não têm influência sobre o uso dos recursos, os processos de tomada de decisão e a governança.
Minorias
Outro destaque do mapeamento ressaltado pela diretora da Rede Comuá é a diversidade de material humano presente nas organizações filantrópicas. “Pessoas vinculadas a minorias políticas, há uma maioria expressiva de mulheres, negros, indígenas, pessoas LGBTQIA ”, enumera.
“Dentro das próprias organizações estão representadas essas minorias políticas que estão sendo apoiadas. Ter esse olhar de dentro para fora é muito importante para fazer esse tipo de filantropia”, conclui Graciela.
Edição: Valéria Aguiar
Fonte: EBC