Poucos meses depois da seca severa que atingiu a região amazônica, os rios voltaram ao volume normal, graças à chuva — que deve durar até março. O fenômeno da cheia dos rios causa os alagamentos, que trazem à tona um problema comum nessa época do ano: a proliferação de moscas. Insetos que se multiplicam com muita velocidade e causam, além de incômodo, doenças.
A contaminação da água e dos alimentos, por conta desses insetos ou de outras razões, pode causar diarreia — um dos problemas mais comuns nas crianças e que podem levar até à morte. Dados da Fundação de Vigilância em Saúde do Amazonas – Drª Rosemary Costa Pinto (FVS-RCP) mostram que o Amazonas registrou em 2023, 253.203 casos de Doenças Diarreicas Agudas (DDA). Só nos primeiros onze dias de janeiro, foram 4.677 casos.
Realidade do pronto-socorro
A pediatra neonatologista e professora da Universidade Federal do Amazonas, Rossiclei Pinheiro, conta que a diarreia é uma doença sazonal e que no período chuvoso tende a aumentar.
“Hoje 50% dos casos que chegam no pronto-socorro pediátrico são de crianças desidratadas por conta da diarreia. E 80% dos casos são virais, causados por infecções alimentares.”
A médica explica ainda que o cuidado com os alimentos na hora do preparo é a melhor forma de prevenção.
Armazenamento e manuseio
O Fundo das Nações Unidas para Infância (Unicef) alerta para os cuidados com os mais vulneráveis neste período do ano. Lídia Pantoja, oficial de Saúde e Nutrição do Unicef para o território amazônico, explica que os cuidados devem começar pelo armazenamento — os alimentos devem ficar em locais fechados, longe de mosquitos e animais. É preciso também estar atento à temperatura, não deixar a comida no sol, nem em locais abertos. Ela ainda dá outras orientações importantes.
“Quanto à higiene dos alimentos, é importante que se lave bem as mãos antes de manuseá-los — com sabonete neutro sem perfume e água. Evitar os cabelos soltos na hora do preparo dos alimentos. Em relação aos legumes, verduras e frutas é importante higienizá-los muito bem antes do consumo, com água e uso de hipoclorito.”
A oficial ainda orienta sobre carnes e peixes, que precisam ser muito bem cozidos para garantir que o alimento esteja seguro para consumo. Embalagens, tampas, latas também precisam ser lavadas com água e sabão ou limpos com álcool 70% e um pano seco.
Em caso de contaminação, os cuidados são essenciais
O lixo, além de atrair insetos e outros animais para a área onde os alimentos são armazenados e preparados, é um meio ideal para a multiplicação de microrganismos. As moscas podem ser vetores de vírus, bactérias e parasitas. Descartar o lixo da forma correta, em sacos fechados e longe de locais onde se armazena e prepara os alimentos, também ajuda a evitar essa contaminação.
A diarreia é uma doença caracterizada por três ou mais episódios de fezes amolecidas em um dia — e ela pode levar rapidamente à desidratação, principalmente em crianças.
“Quando a gente já encontra a criança num quadro de diarreia é importante iniciar a ingestão de líquido o mais rápido possível para evitar que a criança fique desidratada. A ingestão de soro caseiro é importante nesses momentos, assim como aumentar a ingesta de líquidos como soro, sopa, suco, também é importante”, explica a oficial de saúde.
Além disso, aproveitar as frutas da região, que têm nutrientes que ajudam nessa recuperação, como goiaba e caju. Após cada evacuação, a criança deve ingerir pelo menos 50 ml de líquido para que fique sempre hidratada. Em caso de bebês que ainda mamam no peito, a mãe deve manter essa amamentação em livre demanda. E em caso de persistirem os sintomas, é importante procurar uma unidade de saúde.