Mais da metade dos óbitos por doenças respiratórias nas últimas quatro semanas estão relacionados à Covid-19. Segundo o mais recente Boletim InfoGripe, da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), 50,2% das mortes por Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG) estavam associadas ao Sars-CoV-2 (coronavírus). O dado tem como base as semanas epidemiológicas 33, 34, 35 e 36, que abrangem o período de 11 de agosto a 7 de setembro.
Nesse período, foram registrados 288 óbitos pela doença, segundo o painel de monitoramento da Covid-19 do Ministério da Saúde. A infectologista Joana D’arc Gonçalves da Silva afirma que os casos de doenças respiratórias têm aumentado em função da qualidade do ar neste período de seca.
“A gente tem uma proteção nas vias respiratórias, que é a produção de muco e o batimento ciliar, que funciona como uma vassoura, que vai varrer algumas partículas para fora do nosso pulmão. O muco também funciona umedecendo, lubrificando e expelindo, ajudando a expelir essas partículas. Quando o ar está seco, todo esse sistema mucociliar acaba sendo prejudicado e favorece a proliferação de doenças respiratórias e a permanência de alguns germes no nosso sistema respiratório.”
A infectologista também chama atenção para os grupos de risco para doenças respiratórias.
“As pessoas que mais adoecem de doenças infecciosas, como Covid-19, influenza e outras, são os extremos de vida. São as crianças menores de 5 anos e os adultos maiores de 60 anos. As crianças têm uma respiração mais rápida, então acabam respirando mais ar poluído e também o sistema imunológico não está totalmente maduro. E maior de 60 anos por causa do próprio processo de senescência, de envelhecimento celular, que também leva a quadros de deficiência imunológica.”
A aposentada Luzia Rodrigues de Faria Franco, de 80 anos — moradora de Brasília no Distrito Federal —, teve Covid-19 recentemente. Ela conta que os sintomas pioraram em função da seca e das queimadas na região.
“A princípio começou com espirro, tosse, coriza, dor no corpo, dor de cabeça, dor no seio da face, muita indisposição, falta de apetite. Claro que piorou por causa da seca, porque foi muita fumaça, eu senti falta de ar, senti cansaço, muita indisposição e muita secura na garganta, na boca. Esse tempo seco me deixou muito debilitada, porque eu já tenho problema respiratório, tenho sinusite, e foi juntando tudo.”
Espalhamento dos casos e dos óbitos pelo país
Nas últimas semanas epidemiológicas, os casos de SRAG associados à Covid-19 estavam concentrados em Goiás e São Paulo, regiões de grande fluxo de pessoas de outros estados brasileiros. Mas, segundo o Boletim InfoGripe da Fiocruz, houve um espalhamento da doença para as demais regiões do país, como Mato Grosso do Sul, Rio de Janeiro e Distrito Federal.
Segundo o painel de monitoramento do Ministério da Saúde, os estados com maior número de óbitos pelo coronavírus na semana epidemiológica 36 foram Goiás (15) e Paraná (15), seguidos por Minas Gerais (13), Mato Grosso do Sul (7), Paraíba(3), Rio Grande do Sul (3) e Piauí (2). Amazonas, Bahia, Pernambuco, Rondônia e Sergipe registraram uma morte por Covid-19 em cada estado. As demais unidades federativas não registraram nenhuma morte pela doença no período.
Segundo a infectologista Joana D’arc, o aumento dos casos ocorre onde há maior aglomeração de pessoas.
“Em São Paulo, a densidade populacional é maior, as pessoas circulam muito de vários locais do país e do mundo. E esse aglomerado de pessoas e movimentação em diferentes regiões, passando por São Paulo, leva também a um aumento de doenças, principalmente essas de transmissão respiratória e doenças de contato.”
Por isso, a infectologista recomenda aumentar a ventilação dos ambientes e evitar aglomerações.
“Em um cenário como o atual, com poluição por causa de todas essas partículas, esses gases tóxicos que são lançados na atmosfera, um dos pilares para prevenção de doenças de transmissão respiratória é estar em ambiente ventilado.”
Prevenção
O coordenador do Núcleo de Controle de Infecções do Hospital de Base do Distrito Federal, Julival Ribeiro, recomenda o uso de máscaras em locais fechados e aglomerados, especialmente para os grupos de maior risco para a Covid-19, como idosos e imunossuprimidos.
Outra recomendação é o uso do antiviral, sob recomendação médica, para evitar o agravamento e os óbitos pela doença.
“O antiviral tem um impacto muito grande, dado nos primeiros cinco dias, quando indicado corretamente, para prevenir internações e complicações graves da Covid-19. É muito importante que as pessoas com sintomas gripais se dirijam à unidade de saúde, porque pode ser tanto a Covid-19 quanto influenza, vírus sincicial respiratório (VSR) e precisa-se ter o diagnóstico correto para fazer o tratamento adequado para esses pacientes.”
O infectologista também recomenda que as pessoas completem o esquema vacinal contra a Covid-19, principalmente para prevenir as hospitalizações e óbitos pela doença.
Demais doenças respiratórias
O Boletim InfoGripe da Fiocruz tem como base os dados inseridos no Sistema de Informação da Vigilância Epidemiológica da Gripe e apresenta dados sobre outros vírus respiratórios, como VSR, rinovírus, influenza e Covid-19.
VSR: Vírus Sincicial Respiratório
Este vírus atinge, principalmente, crianças pequenas — de até dois anos — ou idosos acima de 65 anos. Geralmente é o responsável pelos casos de bronquiolite em crianças pequenas.
Segundo a pesquisadora da Fiocruz Tatiana Portella, “os sintomas são parecidos com os da gripe: dor de garganta, calafrios, coriza, tosse. Mas é preciso prestar atenção nos sintomas das crianças pequenas. Verificar se elas estão com dificuldade de respirar, com os lábios arroxeados — isso pode ser um indicativo que ela está evoluindo para uma forma mais grave da doença. Nesses casos, é preciso procurar atendimento médico rápido”.
Influenza A ou H1N1
Trata-se do vírus da gripe. Com alta circulação pelo país, sobretudo este ano, a Influenza A também é conhecida como H1N1 — anteriormente chamada de gripe suína.
“Geralmente ele pode dar uma febre mais repentina, mas tem os sintomas muito parecidos com outros vírus respiratórios, como tosse coriza, calafrios. Ele atinge todas as faixas etárias, mas assim como os outros vírus, evolui de forma mais grave nos idosos, crianças pequenas e pessoas com comorbidades”, explica Portella.
Rinovírus
Assim como o VSR, atinge crianças pequenas e pode evoluir para casos de bronquite. Mas é uma doença autolimitada “que vai se curar sozinha entre 7 e 14 dias”, explica a pesquisadora.
“Mas ele pode evoluir para as formas mais graves em crianças pequenas que tenham histórico de asma, doença crônica no pulmão, imunossuprimidos.” Tatiana ainda explica que o rinovírus pode ter uma comportamento sazonal — como Influenza e VSR — e neste momento a Fiocruz observa uma incidência alta desse vírus em crianças pequenas e adolescentes.
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