Além de ser uma das doenças que mais matam no mundo, o câncer continua causando medo e tristeza em quem recebe esse diagnóstico. Mas a tecnologia e a ciência, cada dia mais evoluídas e precisas, surgem como esperança por tratamentos mais eficazes e menos invasivos para os pacientes.
E a cirurgia robótica está entre essas inovações da ciência que aumentam a precisão nas intervenções e reduzem a margem de erro. O cirurgião urológico especialista em Uro oncologia e cirurgia robótica, Vitor Sifuentes, explica tudo sobre a técnica.
Brasil61 –Desde quando a gente conta com esse tipo de tecnologia aqui no Brasil?
VS- A cirurgia robótica chegou ao Brasil há algumas décadas. A cirurgia como a gente conhece hoje, que é com a plataforma Davinci, que é o robô que a gente utiliza hoje, chegou ao Brasil em 2008, em São Paulo, no Albert Einstein e chegou a Brasília em 2018, 10 anos depois.
Brasil61 -Como é a preparação do médico cirurgião que opera com o robô?
VS– A plataforma que a gente usa para operar hoje envolve uma alta carga de treinamento. Primeiro um treinamento online, teórico. Depois a gente faz algumas horas de simulação, por volta de 40 horas de simulação, depois a gente faz um treinamento em vivo. Primeiro com animais e depois a gente faz um treinamento presencial com um especialista auxiliando no treinamento nos primeiros casos. É um treinamento bem extenso, até a gente conseguir estar apto a fazer nossos casos por completo”.
Brasil61–Como funciona a relação médico-robô?
VS-O robô, hoje, não faz a cirurgia sozinho, como muita gente imagina. Ele é só uma ferramenta que a gente acopla as pinças e a gente faz a cirurgia guiada por um console. A gente senta nesse console e ali, por meio dele, a gente tem uma visão magnificada, os tremores do cirurgião são filtrados e a gente consegue ter um movimento muito mais preciso e correto.
Brasil61-Para quais tipos de câncer a cirurgia robótica é indicada?
VS- A cirurgia do câncer de próstata foi pioneira e foi uma das principais introdutoras da técnica. Começou se fazendo com o câncer de próstata, a primeira cirurgia do Brasil foi para um câncer de próstata, mas hoje, na urologia, a gente usa para praticamente todos os tipos de câncer. Câncer de rim, de adrenal, de bexiga, de ureter. Todas as patologias que se trata intra abdominais ou intratorácicas, hoje, tem se feito por robô. Tanto na cirurgia torácica, na cirurgia ginecológica, para câncer de útero, de pulmão, intestino, cólon. Tudo hoje tem se usado o robô nessas abordagens.
Brasil61-Qual é a principal vantagem dessa técnica?
VS-A gente tira menos tecidos, então a gente consegue ser mais preciso, ser mais conservador. É uma técnica minimamente invasiva, a gente tira menos tecido com mais precisão do que realmente está tirando a doença inteira. Na próstata, por exemplo, a gente consegue tirar só o tecido prostático, mantendo as estruturas vitais, como nervos, veias, que vão ajudar na recuperação do paciente, para ele não ter uma para disfunção erétil, para ele não ter uma incontinência urinária. Ele nos dá mais precisão para tirar menos tecidos e ser minimamente invasivo.
Brasil61-A recuperação do paciente também é melhor com a cirurgia robótica?
VS- Essa é a principal vantagem do robô. Ele nos dá um tempo de cirurgia menor, tempo de internação do paciente menor, a cirurgia sangra menos, tem menos complicação. Normalmente nas cirurgias de próstata, rim, a gente libera o paciente no dia seguinte.
Brasil61-Está disponível para todos ou ainda é uma cirurgia cara?
A cirurgia robótica ainda é restrita em dois aspectos. No financeiro, porque apesar dos convênios cobrirem a maior parte do procedimento ainda existem em alguns hospitais a taxa específica do robô. E é restritivo no sentido de que são poucos profissionais treinados. Como o processo de treinamento é muito grande, a curva de aprendizado existe, são poucos profissionais capacitados totalmente para a cirurgia.
Brasil61- Esse tipo de técnica é o futuro da cirurgia oncológica no Brasil e no mundo?
VS-Mais que futuro, a cirurgia robótica contra o câncer é o presente. Já é hoje nossa realidade, praticamente todas as cirurgias oncológicas particulares são feitas com robô. Quem trabalha em hospitais particulares têm que saber fazer robô.
Brasil61 -Como enxerga a robótica para a saúde pública?
VS-Existem vários estudos que demonstram que, quando se compara os gastos, o paciente que fica internado gasta mais com UTI, com insumos, diversos outros tipos de gastos que o robô diminuiria. Mas tem o gasto do robô. No final das contas o robô ainda fica um pouco mais caro pro Estado, mas estaria conferindo um prognóstico melhor. Esses pacientes vão ter menos complicações, melhores resultados, então o robô é sim um futuro para o SUS também. Talvez vai demorar a vir, mas vai acontecer.
Fonte: Brasil61